Este é o disco “Polêmica”, gravado com as músicas da histórica briga de Noel Rosa e Wilson Batista, que resultou em algumas musicas famosas do repertório clássico do samba brasileiro.
Abaixo o texto de Luiz Américo Lisboa Junior sobre esta obra maravilhosa!
As desavenças entre compositores de música popular sempre ocorreram, resultando em grandes contribuições para a nossa arte maior. A primeira ocorreu entre Sinhô e o grupo de Pixinguinha, de 1918 em diante. Convém, porém, salientar que tais desavenças restringiam-se apenas ao campo musical, não afetando as relações de amizade entre os artistas. Foi o caso, por exemplo, de Noel Rosa e Wilson Batista, que protagonizaram o maior duelo musical da música popular brasileira. Noel Rosa, que dispensa maiores apresentações, nasceu no Rio de Janeiro em 1910 e faleceu em 4 de maio de 1937 com apenas 27 anos incompletos. Wilson Batista era da cidade de Campos, Estado do Rio de Janeiro, nascido em 3 de julho de 1913. Começou sua vida artística muito cedo vindo a se tornar um dos nossos mais respeitados compositores, assinando obras como "Pedreiro Valdemar", "Acertei no milhar", "Emília" e muitas outras. Faleceu em 7 de julho de 1968, há exatos 36 anos.
A disputa musical entre esses dois grandes artistas começou no ano de 1933 quando Sílvio Caldas gravou um samba intitulado Lenço no pescoço de Wilson Batista, que fazia a apologia da malandragem. A composição fez sucesso. Só quem não gostou muito foi Noel Rosa, pois achava que ela fazia uma defesa muito veemente da vadiagem e resolveu então compor outro samba em que refutava Wilson Batista conclamando as pessoas a trabalhar e deixar a malandragem. Surgiu então "Rapaz folgado", gravado por Aracy de Almeida.
É evidente que Wilson Batista não gostou nada da resposta de Noel, e resolveu então compor "Mocinho da Vila", em que faz uma dura crítica ao bairro de Vila Isabel, berço de Noel Rosa. Esta música, porém, não teve muita repercussão e a polêmica parecia terminada, não fosse o sucesso do samba "Feitiço da Vila", de Noel Rosa e Vadico, gravado por João Petra de Barros, cuja letra fazia uma verdadeira defesa e apologia ao bairro de Vila Isabel.
Dessa feita foi Wilson Batista quem retrucou, pois, devido ao grande sucesso obtido por "Feitiço da Vila", compôs um samba intitulado "Conversa fiada", desmentido Noel, e lançado em rádio por Luiz Barbosa, Mário Moraes e Léo Vilar, porém, não gravada em disco. Achando que não tinha sentido a reclamação de Wilson Batista, Noel Rosa numa atitude elegante resolveu fazer outra música homenageando outros bairros e defendendo Vila Isabel, surgindo então o célebre samba "Palpite infeliz", gravado também por Aracy de Almeida.
Diante de tal resposta, Wilson Batista perdeu as estribeiras e fez então um samba denominado "Frankstein da Vila" em que falava do defeito físico de Noel Rosa, que tinha o maxilar inferior atrofiado. Tal samba não foi gravado na época, visto ser por demais ofensivo. Contudo, foi divulgado nas rádios pelo conjunto Os Quatro Diabos. Não satisfeito Wilson Batista ainda fez outro samba intitulado "Terra de cego", também não gravado.
Para pôr fim a polêmica, que já durava três anos, Noel Rosa escreveu uma letra em cima da melodia de "Terra de cego" de Wilson Batista, dando-lhe o título de "Deixa de ser convencido", fazendo as "pazes" e fechando com chave de ouro esta grande polêmica musical que é um dos capítulos mais belos de nossa música popular.
Em 1956 a Odeon presta uma homenagem ao dois grandes compositores e convida dois intérpretes que faziam muito sucesso na época, Francisco Egydio e Roberto Paiva, para juntos gravarem todas as músicas da famosa polêmica, mais o samba canção de Noel Rosa "João ninguém" - erroneamente atribuído a uma referencia a Wilson Batista. Tudo foi reunido num esquema de revezamento, como se um tivesse realmente respondendo ao outro e obedecendo a cronologia das canções. O disco fez um enorme sucesso e resgatou para o grande público as músicas que não haviam sido gravadas na ocasião e que eram desconhecidas da grande maioria das pessoas. Os arranjos obedecem fielmente os padrões da época da feitura das músicas, e o disco ainda traz na capa um belo trabalho de Antonio Nássara, um dos maiores caricaturistas brasileiros, que atuava também como compositor e que ainda assina o texto na contra-capa.
Trata-se, portanto de um disco histórico e imprescindível para se conhecer e admirar o talento desses compositores e intérpretes, representantes da fase de ouro de nossa canção popular.
This is the album "Controversy", recorded with the songs of the historical fight of Noel Rosa and Wilson Batista, which resulted in some famous songs from the classical repertoire of Brazilian samba.
Below the text Luiz Américo Lisboa Junior on this wonderful work!
Disagreements between popular music composers always occurred, resulting in major contributions to our greatest art. The first occurred between Sinhô and Pixinguinha group, from 1918 onwards. It should, however, point out that such disagreements restricted only to the musical field, does not affect the friendly relations among artists. This was the case, for example, Noel Rosa and Wilson Batista, who staged the greatest musical duel of Brazilian popular music. Noel Rosa, which needs no further presentation, was born in Rio de Janeiro in 1910 and died on May 4, 1937 with only 27 years incomplete. Wilson Batista was the city of Campos, State of Rio de Janeiro, born on July 3, 1913. He began his artistic life very soon come to become one of our most respected composers, signing works like "Mason Valdemar," "I hit the thousand "," Emilia "and many others. He died on July 7, 1968, exactly 36 years.
The musical contest between these two great artists began in 1933 when Sílvio Caldas recorded a samba entitled scarf around the neck of Wilson Batista, who was the apology of roguery. The composition was successful. Only those who did not like was Noel Rosa, because he thought she was a very strong defense of vagrancy and then decided to compose another samba that refuted Wilson Batista urging people to work and leave the trickery. Then came "loose Boy" recorded by Aracy de Almeida.
Clearly, Wilson Batista did not like the Noel response, and then decided to compose "Mocinho Village" in making a hard criticism of the Vila Isabel neighborhood, birthplace of Noel Rosa. This song, however, did not have much repercussion and controversy seemed over, it was not the success of the samba "Spell of the Vila", Noel Rosa and Vadico, engraved by John Petra de Barros, whose letter was a real defense and apology to the neighborhood Vila Isabel.
This time was Wilson Batista who replied, because, because of the success achieved by "Spell of the Vila", composed a samba entitled "Bullshit," belied Noel and released to radio Luiz Barbosa, Mario Moraes and Leo Vilar, however, not written to disk. Thinking he had not felt the claim of Wilson Batista, Noel Rosa in an elegant attitude decided to do another song honoring other neighborhoods and defending Vila Isabel, then springing the famous samba "Hunch unfortunate", also recorded by Aracy de Almeida.
Faced with such a response, Wilson Batista lost his temper and then made a samba called "Frankenstein Village" in which he spoke of the physical defect of Noel Rosa, who had atrophied lower jaw. This samba was not recorded at the time, seen to be too offensive. However, it was released on the radio by the group The Four Devils. Not satisfied Wilson Batista also made another samba entitled "blind Earth," also not recorded.
To end the controversy that had lasted three years, Noel Rosa wrote a letter on the melody of "blind Earth" Wilson Batista, giving him the title of "Stop being convinced," making "peace" and closing with a flourish this great musical controversy is one of the most beautiful chapters of our popular music.
In 1956 Odeon pays homage to two great composers and invites two interpreters who were very successful at the time, Francisco Egydio and Roberto Paiva, to together to record all the songs of the famous controversy over the samba song of Noel Rosa "John nobody" - erroneously assigned to a reference Wilson Batista. Everything was assembled in a relay scheme, as if one had actually responding to the other and obeying the chronology of the songs. The album was a huge success and rescued for the general public the songs that were not recorded at the time and which were unknown to the vast majority of people. Arrangements faithfully obey the standards of the time of the making of the songs, and the album also features on the cover a beautiful work of Antonio Nássara, one of the greatest Brazilian cartoonists, who also worked as a composer and still sign the text on the back cover.
It is therefore a historical and vital drive to know and admire the talent of these composers and performers, representatives of the golden age of our popular song.
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